diário
documentamos os meses que passam com os momentos que os merecem
ler sobre: Tecnologias das Boas
No fim do passeio micológico que fizéramos em novembro, acabámos todos numa casa de pasto lá para as serras a enfardar - principalmente cogumelos, mas também enchidos - até rebentar. O vinho verde tinto também não faltou. O final do dia foi pontuado por galáxias inteiras a nos passarem pela vista, mesmo quando os olhos já se tinham fechado… Foi nesse ambiente intensamente comunitário, com jogos, conversas aos berros, comida de fartura e substâncias pouco brandas à manutenção regrada da consciência, que aprendemos muito sobre certas lides do campo. Um dos temas debatidos foi o da azeitona, especificamente da variedade galega, que é a que nos temos no terreno. Conhecemos uns tipos que faziam azeite e que nos explicaram umas quantas bases deste processo misterioso. Primeiro, o caroço é que importa, é daí que vem o tão cobiçado material oleoso! O fruto é só sumo amargo. Segundo, quanto mais geadas tiverem apanhado as azeitonas melhor, é aí que murcham e que, encorrilhadas, rendem mais na espremedura. Terceiro: todos nos garantiram que fazer tudo à mão seria loucura; que ir a um lagar era absolutamente necessário. Foi aí que nos afastámos do consenso geral, pois somos loucamente lúcidos da cabeça. Que azeite… Nem o vamos descrever pois nem vale a pena… Mas o que vale a pena deixar claro, é que há toda uma pasta do fruto que, separada da maior parte do óleo, é ainda utilizável para fazer um belo produto fermentado que também é do melhor paladar que há. Os lagares não vos entregam par as mãos esta segunda matéria de grande valor. E nem é garantido que o azeite que vos engarrafam seja deveras o vosso… As tecnologias convocadas do início ao fim: mãos (nada de varas parvas), escadas, cestos, almofariz de mármore, pilão de carvalho, prensa de madeira, e prensa holandesa (de fuso em dois eixos, para fazer a pasta final). A debulhadora que comprámos numa socateira aqui perto também nos tem servido para quebrar bolotas, castanhas, mas também nozes de araucária que trouxemos da Madeira, a velocidades estonteantes. O combustível de tudo isto é sempre o mesmo. O poder metabólico das nossas células, produzindo trabalho com base na energia potencial química dos alimentos que metemos pela boca a abaixo. Força muscular e mais nada. Talvez uma ajuda da gravidade, aqui e alí, e da massa e da materialidade dos objetos que empregamos para quebrar, partir, triturar, moer, peneirar, misturar. A eficiência, sempre a máxima, o prazer, igual. Nada de desperdícios, nem de ruídos horrorosos nem de ares pesados e rios contaminados. Tudo como tem de ser: bom como o camandro! Outra tecnologia de jeito: um bom colchão!. Que diferença que fazem na vida de uma pessoa. Dormir bem deveria ser um bem inegável a toda a gente. Trouxemos o nosso do Porto e, pela primeira, vez sentimos que dormir na Landra é um verdadeiro luxo. O som do rio, os pássaros de manhã e o conforto físico, todos juntos… insubstituível. Entramos para o inverno e, tipicamente, tudo vai descansar o seu sono profundo, religiosamente esperando pela a primavera. Mas nem tudo segue esse passo! Os tremoços estão agora a ganhar as suas primeiras flores, e há abelhas a resistir o frio para ir trabalhar! Os lâmios riscados - comida por excelência - também estão em franco crescimento, ainda que não sustentem aquelas fantásticas flores em forma de boca aberta, rosada, que servirão também as abelhas como nenhuma outra espécie por estas bandas, mas são tão lindos assim.
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Autores
Sara Rodrigues Categorias
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Histórico
July 2024
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