Plantas
uma grande quantidade das plantas que crescem espontaneamente nos nossos terrenos são incrivelmente nutritivas e muitas têm propriedades medicinais
Primaveras
Primula acaulis (Primulaceae)
Primaveras, pascoinhas, Rosas-de-Páscoa, Qeijadinho, prímula, flor-da-doutrina, Barral, copinhos-de-leite, pão-de-leite, pão-e-queijo As folhas, disponíveis durante todo o inverno, comem-se cruas ou cozidas. As flores, que marcam o começo da primavera, comem-se também cruas ou cozidas. Assim que abertas, as flores cozem-se levemente e fermentam-se com água e açúcar, para produzir uma bebida alcoólica muito forte. Para além de ser utilizada fresca para fins medicinais, toda a planta pode ser colhida com três anos de idade e deixada a secar para uso posterior. É eficaz contra espasmos e dores reumáticas. Por causa das saponinas, tem efeitos expectorantes; e por causa dos salicilatos - o principal ingrediente na aspirina - tem efeitos anti-coagulantes. Também tem o anti-inflamatório adodina. Não deve ser utilizada pelos que são alérgicos a aspirina ou por grávidas. Uma infusão das raízes tem efeitos anti-espasmódicos, adstringentes, eméticos, sedativos e vermifúgicos; também é um bom remédio para dores de cabeça e enxaquecas. Umbigos-de-Vénus
Umbilicus rupestris (Crassulaceae)
Umbigo-de-vénus, cachilro, Cauxilhos, Couxilgos, conchilos, conchelo, Bacelos, Copilas, orelha-de-monge, sombrerinho-dos-telhados, Bifes, Chapéus-de-parede, Chapéu-dos-telhados. Em fendas de rochas, troncos e cascas de árvores, muros e telhados. Por vezes no solo, sob coberto de tojais, escovais e outros matos de leguminosas arbustivas. Em substratos ácidos e húmidos. As folhas comem-se cruas ou cozidas. Um valioso pacote de vitaminas durante todo o inverno e o início da primavera. Eventualmente, as folhas tornam-se mais amargas e rijas no verão. As folhas são ligeiramente analgésicas, o sumo e extratos ajudam a amainar a epilepsia. Um cataplasma das folhas esmagadas, ou mastigadas, serve para acudir queimaduras de pele. A mesma mistura, se ingerida, trata inflamações do fígado e da vesícula biliar. Lâmios
Lamium maculatum (Lamiaceae) Chuchas, Chupa-pitos, Coelhos, Lâmio-maculado As folhas jovens comem-se cruas ou cozidas. Têm muita vitamina A. As folhas e as flores também podem ser secadas para infusões, que servem para tratar queixas de rins e de bexiga, diarreia e problemas menstruais, ou pós-parto. Os lâmios têm efeitos adstringentes e são principalmente utilizados como um tónico uterino, ajudando a controlar os sangramentos exagerados e também ajuda nas descargas vaginais descontroladas. As flores são anti-espasmódicas, adstringentes, depurativas, diuréticas, expectorantes sedativas, vasoconstritoras e vulnerárias. Externamente, a planta é utilizada em compressas, aplicadas em varizes. Os hidrólitos das flores e das folhas destilados servem para tratamento de problemas oftálmicos. A planta é colhida durante o verão e deixada a secar para uso tardio. Alfavaca
Parietaria judaica (Urticaceae) Alfavaca, Amarras, Cobrinha, Columbrina, Erva-das-muralhas/muros, Erva-das-paredes, Erva-de-Nossa-Senhora/Santana, Erva-do-amorra, Erva-fura-paredes, Fava-da-cova, Helxina, Parietária, Pulitaina, Pulitária, Urtiga-mansa A planta é comestível crua quando jovem, ou cozida, quando se desenvolve um pouco mais. Os rebentos novos são adicionados em saladas. Muito utilizada pelo seu poder diurético sendo muito utilizada na restauração e fortificação das funções renais [pedras nos rins e bexiga; cistite; nefrite]. Apazigua tosses recorrentes e utiliza-se em forma de bálsamo nas cicatrizes. Colhe-se a planta inteira (em flor) para secar ligeiramente e utilizar como mistura vulnerária, refrigerante e ligeiramente laxante. Não deve ser prescrita a pessoas com alergias primaveris fortes. Alho-bravo
Allium triquetrum (Amaryllidaceae) Comem-se as folhas, as flores ou os bolbos, crus ou cozidos. É um bom intermédio da cebola e do alho. Os níveis de enxofre (típicos do género Allium) presentes em toda a planta, são eficazes no controlo dos níveis do colesterol sanguíneo, e tonificam os sistemas circulatório e digestivo. Figueira
Ficus carica (Moraceae) Bebereira A fruta (figo) é comida crua ou cozida. Pode ser seco ao sol, com um pouco de farinha, caso o clima seja ligeiramente húmido, para ser consumido meses mais tarde. Se a quantidade for suficiente, é possível fazer um xarope extremamente doce, que pode ser utilizado como substituto do açúcar de cana. Em altas concentrações, este xarope tem efeitos laxantes. Uma infusão das folhas é estomáquica. O latex das folhas e ramos verdes é utilizado para tratar verrugas e também tem efeitos analgésicos contra mordidas e picadelas. Os frutos verdes, cozidos até ficarem em papa, são usados como tónico que promove a lactação e tem propriedades anti-cancro. Carvalho
Quercus robur (Fagaceae)
Alvarinho, Roble A nossa árvore favorita domina as florestas de folha caduca aqui no norte da Penínsola Ibérica. Gosta de locais húmidos e de solos profundos, frescos, dominados por fungos e, por isso, ligeiramente ácidos. Todas espécies do género Quercus produzem bolotas comestíveis. Devido ao alto teor em taninos, têm de ser desamargadas antes de se tornarem propriamente digeríveis. Para isso, podemos deixá-las em água a correr durante pelo menos duas semanas, embora, com isso, se percam alguns minerais nutricionalmente valiosos. A cozedura também serve para desamargar, embora destrua muitas das vitaminas. A melhor forma é a fermentação em água, durante pelo menos dois meses em potes bem fechados. Após desamargadas, as bolotas podem ser comidas cruas ou cozidas em pratos normais ou torradas para fazer uma deliciosa infusão. As bolotas começam a cair a partir de setembro, embora seja a partir de novembro que venham em maior quantidade, mais maduras e completas. Se tiverem gorgulho, não só são ainda comestíveis, como têm valores nutricionais ainda mais interessantes (mais proteínas, menos gorduras e menos açúcares). Mesmo sem bicho, as bolotas são reconhecidas pelo seu equilíbrio proteico, contendo as 17 proteínas essenciais de que necessitamos. Após a apanha, podem ser deixadas a secar para depois fazer farinha de alta qualidade para pães, bolos, molhos e polentas. A secagem pode ser também feita após a fermentação, o que dá origem a uma farinha ainda mais completa. A bolota germinada já dá para comer crua, embora ainda possa ser ligeiramnte amarga. A sua maior utilização é a produção de cerveja de bolota! A casca do carvalho é anti-inflamatória, anti-séptica, adstringente e tónica. Os bugalhos também são extremamente adstringentes e, depois de secos, podem ser moídos e utilizados como pó para o tratamento de desinteria. Uma tinta preta muito forte é produzida com a combustão dos bugalhos. Serve para tingir tecidos de negro muito profundo e duradouro. Uma infusão do pó dos bugalhos crus acalma erupções cutâneas, estanca feridas abertas, pára hemorragias internas e tem efeitos positivos contra inflamações bocais e vaginais. A casca é retirada de árvores entre os 5 e os 12 anos de idade e deixada a secar. Amora silvestres
Rubus ulmifolius (Rosaceae) silvas, amora preta, amora brava A fruta (amora) é tipicamente comida crua ao ser apanhada. É aí que nos dá os maiores benefícios. Em grandes quantidades, pode ser preservada em compotas com a adição de açúcar ou xaropes de fruta. As amoras tingem tecidos de azul escuro, roxo a preto com muita facilidade. A tinta é duradoura no téxtil, embora saia com facilidade se for esfregada com amoras verdes! As folhas servem para fazer uma infusão suave e adocicada, boa para misturar com outras folhas mais intensas (folha de laranjeira, por exemplo). Os rebentos novos, assim como os botões de folhas novas podem ser comidos crus (antes de terem desenvolvido os espinhos). Uma infusão da raiz tem efeitos adstringentes, depurativos, diuréticos e vulnerários muito fortes, sendo, por isso, um remédio excelente para diarreias, hemorroidas, disenteria, e cistites. Sem engolir, a infusão serve também de purificação da boca e da garganta. Aboboreira
Cucurbita pepo (Cucurbitaceae)
Variedades domesticadas: carneira, de-água, de-coroa, de-enfeite, porqueira, laranja, machado, moganga, de-mota, de-padre, hokaido A fruta (abóbora) pode comer-se cozida, com ou sem casca, dependendo da variedade e do grau de desenvolvimento. Algumas variedades também podem comer-se cruas, embora sejam mais indigestas. No entanto, todas têm efeitos positivos na desinflamação dos intestinos. As sementes são boas cruas (geralmente moídas) ou cozidas. Tostadas ficam muito saborosas! São oleaginosas muito produtivas e podem ser utilizadas como fonte de óleo alimentar (34 - 54%). As folhas e os ramos tenros, quando jovens também podem ser adicionados a cozidos e sopas. Já as flores são deliciosas fritas, especialmente panadas. A abóbora tem um historial de utilização na medicina da América Central e do Norte. A ingestão das sementes completas e cruas é muito eficaz na destruição de ténias intestinais. Também têm efeitos diuréticos. Por serem ricas em zinco são utilizadas no tratamento de problemas na próstata. A seiva das folhas e dos caules tenros é muito eficaz na recuperação de queimaduras na pele. Prunela
Prunella vulgaris (Lamiaceae) Brunéla, Consolda-menor, Erva-férrea As folhas podem comer-se cruas, embora o alto teor em taninos possa dar-lhes um sabor amargo. Cozidas já ficam doces. Cruas, picadas e postas em água, ficam muito bem como infusão fria durante o verão. Tem efeitos positivos contra febres, diarreias, inflamações bocais e sangramentos internos. Aplicada diretamente em cataplasma, serve para passar inchaços, e inflamações gerais externas e internas. Toda a planta é antiséptica, antibacteriana e vermifúgica. Se for para utilizar seca, deve-se apanhar no meio do verão, antes de murchar. Azeda
Rumex acetosa (Polygonaceae)
[espécie não-micorrízica] Vinagreira As folhas são comidas cruas ou cozidas. Esta planta contém uma grande concentração de ácido oxálico, que lhe dá o distintivo sabor ácido e alimonado. Embora perfeitamente aceitável em pequenas quantidades, as folhas não devem ser consumidas, especialmente cruas, de forma regular, e devem ser evitadas por pessoas com tendências para reumatismo, artrite, ou pedras nos rins. O sumo das folhas é um coalhante muito eficaz de leites e serve para fazer queijos frescos rapidamente. Este sumo tem efeitos refrigerantes, febrifúgicos, adstringentes, diuréticos, e ligeiramente laxantes. A este sumo ainda se pode adicionar o sumo da erva-molarinha para curar infeções fúngicas da pele, tipo pé de atleta. As flores e as sementes já são mais suaves e podem comer-se cruas ou cozidas. As raízes também se comem cozidas. A infusão da raiz, junta de uma pasta que se faz com as flores e sementes é um poderoso travador de hemorragias e é utilizado também para aplicar na regeneração de ossos. Esta mistura tinge tecidos com um castanho forte que não precisa de fixadores. A infusão dos caules isoladamente é utilizada para polir pratas e cobres mas também objetos de cestaria de vimes e bambus. Pode também ser utilizada para retirar nódoas difíceis de linho. Ulmeiro
Ulmus minor (Ulmaceae) Olmo, Ulmo, Lamegueiro, Mosqueiro, Negrilho Ulmeiro, Olmo, Ulmo, Lamegueiro, Mosqueiro, Negrilho As folhas comem-se cruas ou cozidas. Se novas, são muito tenras; quanto mais velhas, mais amargas e mucilagénicas ficam. Os frutos imaturos, logo após terem-se formado podem comer-se crus. São muito aromáticos e deixam uma sensação de frescura na boca (34.4% proteína, 28.2% gordura, 17% hidratos de carbono, 5% cinzas). A casca interna dos troncos com cerca de 5 anos é retirada e deixada a secar para fazer um pó que se usa como enriquecedor nutricional e espessante em molhos, panificação ou para comer com cereais. Este pó tem um efeito adstringente e, por isso, é utilizado no tratamento de diarreias. Também é aplicado diretamente em úlceras bocais, ou na pela para tratar eczemas e problemas reumáticos. Margação
Anthemis arvensis (Asteraceae) Margação, Falsa-camomila, Camomila campestre A sua presença indica a presença de muito cálcio no solo, o que é bom, em geral, para plantas exigentes na frutificação. Mesmo antes de entrarem em floração, libertam óleos voláteis pelos campos, que ficam todos a cheirar intensamente doces. O efeito de se estar num ambiente destes é naturalmente reenvigorante, calmante e tónico. É uma das melhores espécies para baixar febres. Faz-se uma infusão das flores e das folhas. Serralha
Sonchus oleraceus (Asteraceae)
Leitaruga, Leitugas, Serralha-branca, Serralha-macia As folhas jovens são boas cruas. As mais velhas, cozidas. Contêm até 40mg de vitamina C por 100g, e são compostas por 1.2% de proteína, 0.3% de gordura, 2.4% de hidratos de carbono e 1.2% de cinzas. Os caules, mais grossos, também se comem cozidos, mesmo que mais ecos, durante o verão, desde que a parte externa seja retirada (como se faz com os espargos). A seiva mastiga-se até formar uma goma elástica (Típico dos Maoris na Nova Zelândia.) Toda a planta tem funções emenagogas, hepáticas e catárticas. Infusões dos caules e folhas são tomadas para regular menstruações. A seiva, em especial, serve para tratar verrugas, tem propriedades anti-cancro e é ainda utilizada para tratamentos de pessoas viciadas em opióides. Uma infusão da raíz picada tem efeitos contra a febre e funciona como um tónico geral. Deve ser tomada com precaução, pois pode causar cólicas, se tomada em demasia. Trevo dos prados
Trifolium pratense (Fabaceae) Pé-de-lebre, Trevo-ribeiro, Trevo-roxo, Trevo-violeta As folhas colhem-se antes da flor aparecer, e costumam comer-se cozidas, embora sejam comestíveis cruas também. A flor também pode comer-se crua ou cozida, ou beber-se em infusões, de gosto muito suave. As sementes podem ser germinadas para comer em saladas (a germinação destrói os hinibidores de tripsina, uma enzima digestiva). As flores e as vagens podem ser secadas e feitas em farinha, que adiciona um certo travo a baunilha em bolos e pães. A raiz come-se cozida. As flores têm um alto teor em flavonóides, que têm efeitos estrogénicos e que, por isso, são úteis no balanceamento hormonal durante a menopausa. As cabeças de flores têm efeitos positivos contra vários tipos de tuberculose, ma também são espasmódicos, expectorantes, sedativos, tónicos e demonstram ter propriedades anti-cancerogénicas, principalmente contra o cancro da mama. Aplica-se um cataplasma com a matéria esmagada, diretamente na zona afetada. Toda a planta é ingerida internamente e tem efeitos na recuperação das células cutâneas, com efeitos positivos na cura de eczemas e psoríases. As plantas enfraquecidas, ou naturalmente doentes, sintetizam o alcalóide slaframina, que está atualmente a ser estudado pelas suas propriedades anti-diabéticas e anti-sida. Malva silvestre
Malva moschata (Mavaceae) Malva-comum, Malva-das-boticas, Malva-maior, Malva-mourisca, Malva-selvagem As folhas e as flores comem-se cruas ou cozidas. Servem para engrossar sopas e molhos, por serem muito mucilagenoas. Toda a planta é anti-inflamatória, adstringente, demulcente e diurética. A presença das malvas na dieta (especialmente durante o verão) contribui para a regularidade dos sistemas digestivo e respiratório, e tem efeitos diretos contra tosse, bronquite, inflamações bocais e faringites. Serve uma infusão das folhas, embora inculir caules e raiz tem mais efeito. As folhas e as flores esmagadas em cataplasma são aplicadas com muito sucesso em feridas pequenas e picadas de insectos. A mesma papa tem efeitos quase imediatos na resolução de cólicas em crianças. Cerejeira-brava
Prunus avium (Rosaceae)
Cerdeira A cereja brava é mais intensa que as variedades domesticadas. Pode ser mais amarga, porém, se madura (quando está quase preta) nunca apresenta demasiada acidez. É muito utilizada para fazer compotas e doces, pois contém cerca de 14% de açúcar. Quanto à árvore em si, se a casca sofrer golpes, das feridas escorre uma seiva gomosa que é comestível. Se for deixada a secar, esta torna-se resinosa, e ingere-se como rebuçados naturais para ajudar a passar problemas respiratórios. Os raminhos que seguram a cereja usam-se em infusões e são tónicos, adstringentes e diuréticos. A cereja brava contém maiores quantidades de amigdalina e prunasina que, em contacto com água, formam cianetos. Em grandes doses (que se detetam facilmente pelo amargor excessivo na boca) o cianeto pode ser mortal, mas em pequenas doses, os cianetos estimulam a respiração, melhoram a digestão e geram uma sensação geral de bem estar. |
Urtiga
Urtica dioica (Urticaceae)
Ortigão, Urtiga, Urtiga-de-cauda, Urtiga-maior, Urtiga-vivaz, Urtiga-vulgar associações: erva-andorinha (Chelidonium majus), rabaça (Oenanthe crocata), sabugueiro (Sambucus nigra), hortelã-brava (Mentha suaveolens), amieiro (Alnus glutinosa) As folhas novas comem-se cozidas. São muito nutritivas, ricas em ferro, sais minerais e vitaminas (especialmente A e C). As folhas mais velhas e rijas podem começar a ter efeitos laxantes. Também é deixada a secar (colhida assim que floresce) para infusões durante todo o inverno; normalmente combinada com chás asiáticos. A infusão purifica e tonifica o sangue; ajuda na recuperação da anemia e baixa febres. Também tem efeitos anti-asmáticos, adstringentes, diuréticos e hipoglissémicos. Resolve facilmente problemas renais e urinários, serve de antídoto para picadas de insectos e ajuda a curar a varicela. O ácido fórmico (que produz o efeito urticário) é eficaz no tratamento do reumatismo e da artrite; pela mesma razão, também ajuda contra equizemas, caspa, neuralgias e hemorródias. Com soluções alcoólicas leves (<4.5%) extrai-se a clorofila para uso como corante alimentar (E140). A polpa da planta inteira serve para talhar leite no processo queijeiro. Também se faz cerveja de urtiga, fermentando apenas as pontas. Se colhida no outono, assim que começa a decair, os caules produzem fibras fortes, úteis para a manufactura de cordas, de panos e de papel de alta qualidade. Após a extração das fibras, o restante material é utilizado como biomassa de alta qualidade para compostagem, ou para a produção de açúcar, amidos, proteínas ou álcool etílico. Também se faz um chorume (com uma ou duas semanas, dependendo da temperatura ambiente) para borrifar sobre as plantas, com efeitos repelentes e fertlizantes. O sumo e a polpa da urtiga servem para untar estruturas de madeira que se queiram à prova de água. Na tinturaria, o pigmento verde (permanente) derivado dos caules e das folhas, é muito valorizado pela sua permanência e elegância. Quando chega a primavera, as urtigas começam logo a perder alguns dos seus nutrientes. No verão, todo o esforço é depositado nas flores e nas sementes e, aí, estãrão mais insípidas e fibrosas. Portanto, urtiga a sério é mesmo no inverno! Loureiro
Laurus nobilis (Lauraceae)
Matagais e bosques. Acompanhante de carvalhais e galerias ripícolas, por vezes dominante, dando origem a matagais fechados de porte alto (louriçais). Geralmente em vertentes sombrias ou no fundo de barrancos, sobre solos frescos. As folhas usam-se como condimento, frescas ou secas. As bagas secas são utilizadas como tempero forte em sopas e guisados. Para fumar a carne de porco, colocam-se as folhas de louro nas brasas. As folhas frescas usam-se em infusão; serve para aliviar dores de cabeça, e é utilizada para lavagens gerais. Também se extrai um óleo essencial das folhas (1% - 3%); tem efeitos digestivos, sedativos e purificadores. É eficaz no tratamento de inflamações e infeções bacterianas e virais. Cura bronquites e gripes e tem efeitos anti-carcinogénicos. Para produzir o azeite da baga de louro, cozem-se as bagas durante quatro horas e depois espremem-se numa prensa de madeira. Este óleo essencial é usado para fazer sabão de alta qualidade. O loureiro ajuda outras plantas a afugentar pestes e doenças. As folhas secas servem para guardar grãos e legumes frescos por mais tempo. Ajuga
Ajuga reptans (Lamiaceae) Ajuga-rasteira, búgula, cansolda-média, erva-carocha, erva-de-São-Lourenço, erva-férrea, lingua-de-boi, viuvinha. Os rebentos e as folhas novas comem-se crus ou cozidos. Adicionam um sabor distinto e intenso a pratos complexos. As flores desenvolvidas contêm propriedades psicotrópicas que podem ser fatais em grandes quantidades. Toda a planta é fortemente adstringente e é utilizada fresca em cataplasmas para parar hemorragias, irritações da garganta e úlceras bocais. As folhas maiores, mais amargas, mascam-se para ajudar com as bebedeiras e as ressacas. Para além de ser utilizada fresca, pode ser apanhada em flor e secada para uso posterior, ou destilada para óleos essenciais ricos em substâncias tipicamente presentes no género Digitalis (tónico cardíaco; vasoconstritor). Violeta-brava
Viola riviniana (Violaceae) Violeta-brava, Bonelas Sob coberto de bosques húmidos ou ripícolas, sebes, prados húmidos, lameiros, margens de linhas de água. Em locais húmidos e geralmente sombrios. As folhas novas e os botões das flores são comidos crus ou cozidos. Em sopas, funcionam como espessante. Também se faz uma infusão das folhas. Dente-de-leão
Taraxacum officinale (Asteraceae) As folhas, as flores e as raízes comem-se cruas ou cozidas. Todas as partes são também utilizadas para fazer infusões quentes. As flores, ainda dentro dos botões, mesmo antes de abrirem, são apanhadas e conservadas em vinagres para servirem de alcaparras. As folhas e as raízes são fermentadas na primavera, em conjunto com as da bardana (Arctium minus), para dar origem a cervejas herbais. Já as flores sozinhas podem ser fermentadas dando origem a um vinho mais suave e fragrante. As raízes das plantas com pelo menos dois anos são colhidas no outono, secadas e tostadas para fazer um substituto de café. O dente-de-leão é fortemente diurético mas, como é muito rico sais de potássio, ajuda a complementar as perdas salíneas que ocorrem por causa desse efeito. A raiz é especialmente hipo-glissémica e tem efeitos antibacterianos, inibindo especificamente o crescimento das seguintes espécies: Staphylococcus, Pneumococci, Meningococci e Bacillus; embora também tenha ação antifúngica contra leveduras simples. Deve ser utilizada fresca pois, após seca, os efeitos ficam consideravelmente mais fracos. Infusões da raíz fresca, se colhida pela primavera, servem para tratar problemas urinários, para limpar o fígado, e para tratar edemas relacionados com hipertensão e insuficiência cardíaca. A infusão pode ser aplicada diretamente em problemas cutâneos, incluindo eczemas e acne. Já o latex, presente na seiva dos caules primaveris, é muito eficaz para remover verrugas. Canabrás
Heracleum sphondylium (Apiaceae) Branca-ursina, canabrás, patas Os caules (sem folhas) e os rebentos novos comem-se crus ou levemente cozidos. Os ramos folhosos inteiros são postos a secar até ficarem amarelos, para que, nas pontas se acumule cristalizada a seiva, que é muito doce. Os pedúnculos, antes de florirem, são utilizados como um vegetal comum em sopas. A raiz também é comida cozida. As raízes e as folhas são afrodisíacas, digestivas, e sedativas, e ligeiramente expectorantes. É utilizada no tratamento de laringites e bronquites. Faz-se uma tintura com todas as partes aéreas da planta, que serve para combater a fatiga. Assim que a planta entra em floração, é colhida e deixada a secar para uso posterior. Beldroega
Portulaca oleracea (Portulacaceae) Baldroega, beldroega Aparece muito em campos de cultivo, caminhos de terra batida, baldios, fendas de calçada e outros terrenos mexidos, frequentemente em solos argilosos e secos. Comem-se as folhas e os ramos tenros crus ou cozidos. Uma boa fonte de omega-3, cálcio, potássio, riboflavina e niacina. As folhas contêm 1.8% de proteína, 0.5% de gordura, 6.5% de hidratos de carbono e 2.2% de cinzas. As sementes, se colhidas em quantidade, são extremamente ricas em proteínas e ácidos gordos muito balanceados e saudáveis. Queimadas, a cinza pode ser utilizada como sal de condimentação de alta qualidade. Estas propriedades têm especial valor na prevenção de ataques cardíacos e outros problemas vasculares. Toda a planta é também anti-bacteriana, depurativa, diurética e febrifúgica. Um chá das folhas mais secas é tradicionalmente utilizado para aliviar dores de estómago e de cabeça. O óleo das sementes é aplicado nas córneas para reduzir as opacidades. Pimenta d'água
Polygonum hydropiper (Polygonaceae) Aqua-piper Aparecem tipicamente junto a cursos de água, em terrenos muito húmidos, ácidos ou com falta de cálcio. As folhas e os causes podem comer-se cruas. O sabor é muito picante, semelhante ao wasabi. Para quem é sensível a este nível de intensidade, pode saltear levemente ou cozer antes de comer. Em azeite ou outro tipo de óleo, fazem um bom molho picante para saladas e tapas. As folhas têm 7.5% de proteína, 1.9% de gordura, 8% de hidratos de carbono, 2% de cinza e valores relevantes de rutina (uma flavonoide típica das poligonácias). No final do verão, quando a planta está madura, as sementes adicionam um sabor apimentado e aromático ao ataque picante inicial das folhas. Os rebentos destas sementes são muito bons como micro-verdes (muito típicos na culinária Japonesa). As folhas são anti-inflamatórias, adstringentes, carminativas, diaforéticas, diuréticas, estimulantes e estomáquicas. Particularmente eficazes na estancagem de sangramentos, é utilizada commumente em períodos excessivos e hemorragias internas. É de notar que o uso regular de pimenta dágua tem efeitos negativos na fertilidade reprodutiva... Erva-moira
Solanum nigrum (Solanaceae) Erva-noiva, Erva-santa, Fona-de-porca, Tomateiro-bravo, Tomateiro-do-diabo Considerada uma infestante das culturas de primavera-verão, há muito desacordo sobre esta planta ser ou não própria para consumo humano. Isso deve-se à presença da toxina solanina, típica nas solanácias como é o caso do nosso querido tomate… A fruta bem madura (preta), cozida é perfeitamente comestível! O gosto melhora consideravelmente após uma geada forte. É tipicamente adicionada a conservas tipo chutneys e compotas. Tem 2.5% de proteína, 0.6% de gordura, 5.6% de hidratos de carbono e 1.2% de cinza. Toda a planta é antiperiódica e anti-inflamatória, diaforética, diurética, febrifúgica, narcótica, purgativa e ligeiramente sedativa. No outono, apanha-se a planta toda (frutos, folhas, algumas flores se ainda as houver, raízes, caules e tudo) e deixa-se-a secar para fazer pó. É utilizado diretamente, diluído em água em cataplasmas contra úlceras cancerosas, feridas infetadas e inflamadas. Pode ser bochechado como analgésico bocal para obecessos e inchaços. Barba de Falcão
Crepis capillaris (Asteraceae) almeirão branco, almeiroa Não é muito utilizada na alimentação, pois é uma hemicriptófita sorrateira que passa o inverno (e grande parte da primavera) em forma de roseta e aparece e desaparace muito rapidamente no fim da primavera. Porém, as suas folhas, cruas ou cozidas, são muito palatáveis e são muito parecidas com as da serralha. As flores também se comem e parecem-se muito com as do dente-de-leão. Giesta
Cytisus scoparius (Fabaceae)
Chamiça, Escova, Giesta-brava, Giesta-negral, Giesta-ribeirinha, Giesteira-das-serras, Giesteira-das-vassouras, Maias, Retama Os botões das flores fermentam-se em salmoura e servem de substituto de alcaparras. No processo cervejeiro, as novas pontas verdes servem de substituto do lúpulo, com efeitos mais fortes. Também se faz uma infusão de sementes torradas e moídas. Colhem-se os ramos verdes, floridos em Maio. Podem ser utilizados frescos ou secos (não guardados por mais de 1 ano). As pontas verdes são altamente diuréticas, ajudando contra a retenção de líquidos; também influenciam a atividade elétrica do coração, baixando o ritmo e aumentando a regularidade dos impulsos. Porém, pode ser demasiado vasoconstritora e ter efeitos narcóticos, daí não dever ser prescrita para grávidas ou pessoas com hipertensão. Infusões de giesta servem para evitar a perda de sangue após o parto, pois também causa contrações no útero. Alface brava
Lactuca serriola (Asteraceae) Alface-de-espinhos, Alface-áspera, Alface-silvestre, Leituga É uma planta imponente, que pode ganhar o tamanho de um humano adulto mas é mais frágil do que parece. As folhas jovens podem comer-se cruas; já as mais desenvolvidas, especialmente quando a planta entra em floração, começam a ficar um pouco amargas, embora cozidas fiquem boas. Os primeiros rebentos da primavera também se podem comer cozidos. Das sementes, obtém-se um óleo que fica comestível após filtrado. Caso não seja filtrado, é muito útil para fazer sabão, tintas e vernizes. Toda a planta é rica em seiva branca que solidifica em contacto com o ar. Esta contém a substância ativa lactucarium, utilizada industrialmente pelas suas propriedades anodinas, anti-espasmódicas, digestivas, calmantes, narcóticas e sedativas. Funciona como um opióide mas mais fraco, mas não causa nauseas, problemas digestivos ou vício como o ópio. É tomado internamente para tratar insónias, ansiedade, neuroses, hiper-atividade infntil, tosses, problemas reumáticos e infeções urinárias A concentração de lactucarium pode começar a ser demasiada quando a planta entra em floração. Então, em vez de consumir a seiva diretamente, podem fazer-se infusões de toda a planta. Overdoses podem causar fatiga extrema e morte por falha cardíaca. Orégãos selvagens
Origanum vulgare (Lamiaceae) Manjerona-brava, Ourégão Uma das ervas mais utilizadas na comida mediterrânea. As folhas utilizam-se frescas, mas mais vezes secas, e até cozidas em muitos pratos e saladas. As flores aparecem no final da primavera e são, na verdade, a parte mais importante no que toca a aroma, pois emanam óleos voláteis muito intensos que perduram no tempo. Estes óleos têm efeitos benéficos nos sistemas respiratório e digestivo, assim como promovem a menstruação regular. Os ramos floridos são potentes anti-sépticos, muito úteis nas fermentações com pouco sal, mas também têm efeitos espasmódicos, carminativos, coalagogos, diaforéticos, espectorantes e tónicos. Em em conjunção com outras plantas, são utilizados no tratamento de febres, indigestões, gastrointrites e menstruações dolorosas. O óleo essencial (destilado) é um forte sedativo e é administrado para promover sonos profundos. Embora não deva ser utilizado por grávidas regularmente, os efeitos anti-virais a nível respiratório são muito fortes. É ainda utilizado como anestético local em algodão, diretamente, para operar sem dores. Borragem
Borago officinalis (Boraginaceae)
Comem-se as folhas cruas ou cozidas. São ricas em potássio e cálcio e têm um sabor naturalmente salgado. Como são muito peludas, devem ser cortadas finas. Devem ser utilizadas o quanto antes após colhidas pois perdem as suas propriedades nutritivas muito rapidamente. As flores também se podem comer cruas. Há quem diga que sabem ligeiramente a pepino. Adicionadas a vinagre, pintam-no em segurança de cor-de-rosa. Juntas, as folhas e as flores ficam bem numa infusão. Os caules secos servem para infundir bebidas refrescantes a frio. As sementes contêm cerca de 30% de óleo, muito rico em ácidos gama-linolénicos, que ajudam a regular o sistema hormonal e baixam a pressão arterial. A borragem é utilizada há séculos como tónico mental, ajudando contra a melancolia, induzindo por vezes a euforias breves. É útil no apaziguar de tecidos irritados, devido ao seu efeito salino-diurético. Toda a planta, se ingerida crua, tem efeitos expectorantes, febrifúgicos e depurativos e ligeiramente sedativos. Ajuda na limpeza dos rins mas não deve ser tomada por pessoas com problemas de rins, pois faz parte de uma família de plantas que possui muitos alcalóides. Na pele, usa-se nos inchaços e ardores. Colhem-se as flores na primavera tardia, assim que a planta entra em floração. A planta viva, em crescimento tende a afugentar muitos insectos. Ansarina-branca
Chenopodium album (Amaranthaceae)
Ansarina-branca, Catassol, Erva-couvinha, Pedagoso, Quenopódio-branco, Sincho Por causa do alto teor em saponinas, as folhas, que são muito nutritivas, devem comer-se cozidas. As sementes podem comer-se germinadas ou cozidas também. De qualquer forma, devem ser sempre demolhadas da noite para o dia para remover as saponinas. Os caules jóvens comem-se cozidos como se faz com brócolos. Faz-se uma infusão das folhas com propriedades anti-reumáticas. Um cataplasma das folhas esmagadas ou até mastigadas é um bom antídoto para picadas de insectos, especialmente mosquitos, e também serve para apaziguar queimaduras do sol. Mastigadas cruas pontualmente, as folhas têm efeitos medicinais, ajudando com problemas urinários e renais. Já a raiz, se desfeita em sumo, tem serve para combater a desinteria do sangue. Colsolda
Symphytum officinale (Boraginaceae) Colsolada, Colsolda maior As folhas novas podem comer-se cruas, embora as mais velhas comecem a apresentar quantidades mais elevadas de alcalóides tóxicos. Comê-las cozidas é mais seguro e, de qualquer modo, é sempre bom optar pelas folhas mais jovens. A outra forma é apanhá-las já grandes e deixá-las a secar para fazer infusões posteriormente. Os rebentos primaveris são comidos como espargos. As raízes também são utilizadas cozidas em sopas e guisados. Para isso, é preciso retirar a camada exterior - mais fibrosa - antes de cozer. Para fazer uma bebida solúvel tipo café, torram-se as raízes e, por vezes, adicionam-se as dos dentes de leão e de chicória. A consolda é muito utilizada para o tratamento externo de cortes, hematomas, herpes, eczemas, frieiras, varizes, fracturas ósseas etc. Internamente, já é utilizada para curar problemas respiratórios e hemorragias internas. A planta é rica em alantoina, uma molécula (hoje já sintetizada em laboratórios) que acelera o processo regenerativo a nível celular. As folhas colhem-se no verão cedo antes da planta entrar em floração. As raízes colhem-se no outono. Ambas são deixadas a secar. |