saber a terra
em relação direta com os ecossistemas locais, vamos documentar, aprender e partilhar as artes e os ofícios ancestrais
Em relação direta com os ecossistemas locais, vamos documentar, aprender e partilhar as artes e os ofícios ancestrais. Conhecer profundamente a proveniência e a utilidade de materiais como os vimes, a lã, a madeira e a pedra, ajuda-nos a desenvolver uma cultura produtiva, sustentável e resiliente.
Durante dois anos, vamos convidar artesãos locais, detentores de conhecimentos valiosíssimos, para nos ensinarem algumas práticas básicas de reconhecimento e de trabalho com estes materiais naturais, abundantes nesta bio-região. Em oficinas de criação na Landra, os participantes poderão desenvolver estes conhecimentos rudimentares no sentido de uma criação conjunta, que mostraremos na Casa da Cultura de Cabeceiras de Basto, envolvendo um almoço comunitário durante as Festas de São Miguel, em Setembro de 2025. |
As atividades são gratuitas e as inscrições são feitas através do email: [email protected]
O Saber a Terra conta com o apoio do programa Arte e Coesão Territorial da Dgartes, da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto, e ainda com os parceiros Junta de Freguesia de Riodouro e projeto Tramas da Teque Artes. Direção Artística e Organização: Landra (Sara Rodrigues e Rodrigo Camacho) / Audiovisuais: João Ferreira / Som e Assistência de Produção: Beatriz Rola / Fotografia: Magda Pereira / Design: Paulo Mariz Instagram @saber.a.terra |
O tempo da rocha ultrapassa-nos. É no manto rochoso, sólido, que reside a outra parte da água, para que a vida aconteça. O granito, abundante na região norte de Portugal, forma-se a partir do arrefecimento lento do magma no interior da crosta terrestre.
Em Cabeceiras de Basto, a pedra granítica compõe e sustenta todo o concelho com socalcos, muros e pontes, casas e espigueiros, fontes e bancos. Os pedreiros eram também eles abundantes e, antes das máquinas, muitos trabalhos eram só possíveis com uma vila inteira. José Eduardo traz este ofício já do seu pai, e apesar de usar ferramentas a motor para poupar tempo e esforço, ainda sabe rachar uma pedra com recurso a poucos instrumentos de ferro. Há na verdade trabalhos que ainda exigem este manuseamento, e a mão do pedreiro tem que ser tão delicada quanto forte. As pedras encaixam-se com sabedoria e arte, formando estruturas que permanecem no tempo, embelezando a vida. |
Nesta atividade, o pedreiro percorre com os participantes os caminhos de rocha e saibro abertos na montanha. Entre a floresta e a casa, aprendemos a arte de extrair da rocha a pedra, e de a transformarmos. No embalo da criação das mais diversas formas, descemos também ao rio, permanente escultor, para dar com as pedras arredondadas pelo constante trabalho da água. Como já estamos em Julho, aproveitamos ainda para dar um mergulho depois de cada dia de pedra ao sol.
As atividades são das 10h às 17h e incluem um almoço com elementos de recoleção local. Talvez ainda existam alguns últimos umbigos de vénus, sobre rochas, antes da semente. O primeiro fim-de-semana conta com a presença do pedreiro José Eduardo. Já no segundo, daremos continuidade aos seus ensinamentos criando autonomamente. |
A madeira (maciça ou transformada) está presente onde quer que se olhe. No entanto, a maior parte das objetos e estruturas que vemos hoje são de origem distante, longe da vista a durabilidade e o cuidado com os ecosistemas de onde são retiradas as inúmeras árvores.
Aqui em Riodouro, Cabeceiras de Basto, preparamo-nos para a atividade "do tronco à peça". Com ferramentas simples como serras, machados, malhos e cunhas, seremos guiados pelas mãos do carpinteiro José Machado de Pedraça, que traz consigo a sabedoria ancestral do pai e das gerações anteriores. Começamos com um passeio pela Landra para perceber como funcionam os carvalhais mistos da nossa região. Queremos compreender melhor os ambientes em que vivem as majestosos árvores; saber como nascem, vivem e morrem; como socializam e se organizam no espaço, transformando-o. |
De seguida, identificaremos as espécies que foram apreciadas e utilizadas para diferentes propósitos durante milhares de anos. Vamos aprender a selecionar as árvores para corte, e a transformar os seus troncos em secções básicas, que podemos utilizar para fazer de pequenos objetos a casas inteiras. Assim, surgirão as peças feitas pelas nossas próprias mãos, de valor cultural e ambiental acrescido tanto para nós como para a gerações que nos seguem.
A atividade com o Senhor Machado tem lugar na Landra no fim de semana de 15 e 16 de Março, das 10 às 17 da tarde. Já no fim de semana seguinte, de 22 e 23 de Março, com base nas indicações do carpinteiro, continuaremos por nossa conta a transformar os blocos em peças. Os almoços são também oferecidos, nos quais incluimos produtos florestais. |
A lã de ovelha é um material ainda muito usado no presente. Porém, a maior parte das pessoas utiliza lã que terá sido processada industrialmente antes de ser adquirida. A maior parte da lã tosquiada, como é o caso no concelho de Cabeceiras de Basto, é normalmente enterrada ou queimada pelos pastores que já não têm a quem a vender nem como a trabalhar.
Sentimos a importância de perceber então de que formas é que podemos resgatar e transformar este precioso material para os mais diversos usos. Assim, recebemos as Mulheres de Bucos para um conjunto de atividades entitulado 'da lã ao fio e ao feltro'. |
Começámos a partir da lã de ovelhas tosquiadas na região; com raças, características, e propriedades particulares. Experimentámos formas de lavar e tratar a lã, para diferentes usos, aprendendo também a esgadelhar à mão, a cardar com ferramentas manuais, e a fiar com fuso e roca. Por fim houve ainda experiências com feltragem; com agulhas ou por fricção a frio, a quente, com e sem sabão.
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Começamos com o Senhor Joaquim Pereira, de Outeiro, a aprender como se transformam em cestos e outras construções flexíveis, as hastes das árvores do género Salix (salgueiros, vimeiros, chorões...) mas também as fitas de rebentos verdes de castanheiro e carvalho.
Aprendemos métodos de poda para que estas árvores possam renascer todos os anos com mais hastes vigorosas. Recolhemos também material de várias partes de cada planta, dos troncos mais grossos aos galhos mais finos, e até às cascas bem expressivas. Nem o zangarinho e a silva ficaram para trás. |
No lameiro, juntámos ainda molhos de juncos que podem ser usados para tramas mais maleáveis. Fizemos por fim a preparação de todos os materiais para serem utilizadas mais tarde.
Já sem a presença do senhor Joaquim, partimos dos seus ensinamentos para criar as nossas próprias peças de cestaria e muito mais. Cada uma seguiu as formas dos materiais selecionados e o feitio do seu criador, com uma criatividade surpreendente que emergiu a partir da exploração das variadas plantas e do seu vasto potencial de entrelaçamento. |