LANDRA
  • Diário
  • práticas
  • Plantas
    • Primavera
    • Verão
    • Outono
    • Inverno
  • Produtos
  • Biblioteca
  • PROJETOS E ATIVIDADES
  • Diário
  • práticas
  • Plantas
    • Primavera
    • Verão
    • Outono
    • Inverno
  • Produtos
  • Biblioteca
  • PROJETOS E ATIVIDADES
LANDRA

diário

documentamos os meses que passam com os momentos que os merecem

Mãos corajosas à obra

31/10/2021

0 Comments

 
Imagem
Imagem
Imagem
Imagem
Imagem
ler sobre: Mãos Corajosas à Obra
A casa já nos pedia por favor que nos apressássemos com as obras. Precisava de ser coberta, não fosse o interior degradar-se ainda mais. Foi isso que fizemos. Mal houve uma semana de jeito. Arregaçámos as mangas e pusemos mãos à obra. Com os andaimes que tínhamos já arranjado na loja do senhor Parente, em Cabeceiras, andámos todos empoleirados nas alturas a arranjar estruturas de madeira e topos de paredes para que aterrasse em estilo o novo telhado.

Até este momento, dando-se conta da localização particularmente bizarra da nossa casa - isolada no meio de uma floresta, num vale, apartada da estrada nacional novecentos metros de caminho incerto que baste - todos a quem pedimos ajuda com as obras de recuperação acabariam eventualmente por abandonar o barco, uns mais sorrateiramente que os outros…

Os últimos com quem tínhamos falado, tinham sido os Carvalho - pai e filho - muito conhecidos em Cabeceiras como bons carpinteiros, procurados especialmente pelo suposto brio e bom gosto com que fazem móveis e acabamentos fininhos… Nós não queríamos grandes acabamentos, se não as bases, mais básicas em bem feitas que pode haver; fortes e duradoiras, tudo no sítio com os melhores materiais. Acabamentos fazemos nós! O Carvalho filho, ao descer o caminho a pé para ver a casa, foi-se acanhando na comunicação, cada vez mais esguia, escassa até se perder de vista. Após esperas e hesitações já desgostosas, foi o próprio Carvalho pai que nos indicou o Senhor Machado, mais conhecido pelos sítios de Pedraça como “O Batatinha”.

Para todos efeitos, foi o Senhor Machado, o único corajoso, aventureiro e um tanto quanto louco que se dignou a cumprir a promessa. Chamou o irmão, que é tanoeiro, e um amigo com quem costumam trabalhar, e desceu de trator carregado, em várias partes, com as mil e tal telhas e uns tantos barrotes pelo nosso caminho abaixo. Alguns barros, como seria de esperar, partiram-se, mas isso faz parte da aventura! Até o trator ficou alagado num buraco ao tentar sair daqui num dia mais húmido, e tivemos de trazer ainda alguns barrotes aos ombros para lembrar os velhos tempos em que as pessoas de Eiró, quando morria alguém, iam a pé, de caixão às costas, para a Igreja de Riodouro (que fica do nosso lado), tudo para merecerem um pouco de bacalhau seco quando lá chegassem à cerimónia, que era sempre meia triste, meia alegre.

Com medo de que viessem por aí as chuvas a sério, o trabalho fez-se rápido e certo até tudo ficar pronto. Quando chegou à vez de tratarmos as madeiras que ficariam mais expostas aos elementos, tivemos o prazer de demonstrar aos profissionais que também sabíamos uns truques fixes. Recentemente, tínhamos passado em Foz-Côa, de onde trouxéramos umas quantas galhas de terebinto selvagem. É uma planta do mesmo género do pistácio (que se come) mas que produz carradas de resina volátil, e que se destila para produzir a turpentina. Misturada com cera de abelhas e óleo de linhaça em partes iguais, faz um belo produto para tratar madeiras que se queiram protegidas da chuva, dos fungos e dos insectos! Os Machado até são os carpinteiros mais tradicionais que já encontrámos por estas bandas, mesmo assim, se não lhes tivéssemos imposto este mais lento e moroso tratamento à moda antiga, as madeiras exteriores teriam sido todas pinceladas com bondex… Sentados nos andaimes, acabávamos nós as madeiras enquanto o Senhor Machado ia fixando as telhas, não fossem levantar voo com os ventos mais fortes do inverno…

Fora estas pequenas dissidências, o Senhor Machado gosta do nosso pão de bolota, gosta do ambiente assim, selvagem, e gosta de nós. Quando veio cá pela primeira vez, mostrámos-lhe onde dormíamos, como fazíamos comida, as nossas novidades na horta, e deixámo-lo emocionado com a nossa forma de vida. Disse-nos logo que lhe fazia lembrar da sopa que a avó dele fazia; nos tempos em que era verdadeiramente feliz, sem luz, nem água encanada. Para lhe passar a melancolia, de saber que o seu próprio filho já não lhe seguia os passos, demos-lhe uma folha de mostarda roxa para as mãos. Meteu-a à boca e disse “Foda-se ca puta! É picante c’mó caralho!!!”. De seguida, olhou para os inhames que temos a crescer mesmo aqui em baixo da casa, na primeira horta que abríramos. Mirando as suas copas gigantes, perguntou-nos se eram jarros. Dissemos-lhe que eram da mesma família, mas que estes, tinham vindo da Madeira e se lhes comíamos as raízes, tiradas em Abril. Quando se começarem a propagar decentemente, vamos tratar de fazer chegar inhame a toda a gente da zona! Vai ser um sucesso!
0 Comments

Construção e Ensaios

30/9/2021

0 Comments

 
Imagem
Imagem
Imagem
Imagem
Imagem
ler sobre: Construção e Ensaios
A casa já nos pedia por favor que nos apressássemos com as obras. Precisava de ser coberta, não fosse o interior degradar-se ainda mais. Foi isso que fizemos. Mal houve uma semana de jeito. Arregaçámos as mangas e pusemos mãos à obra. Com os andaimes que tínhamos já arranjado na loja do senhor Parente, em Cabeceiras, andámos todos empoleirados nas alturas a arranjar estruturas de madeira e topos de paredes para que aterrasse em estilo o novo telhado.

Até este momento, dando-se conta da localização particularmente bizarra da nossa casa - isolada no meio de uma floresta, num vale, apartada da estrada nacional novecentos metros de caminho incerto que baste - todos a quem pedimos ajuda com as obras de recuperação acabariam eventualmente por abandonar o barco, uns mais sorrateiramente que os outros…

Os últimos com quem tínhamos falado, tinham sido os Carvalho - pai e filho - muito conhecidos em Cabeceiras como bons carpinteiros, procurados especialmente pelo suposto brio e bom gosto com que fazem móveis e acabamentos fininhos… Nós não queríamos grandes acabamentos, se não as bases, mais básicas em bem feitas que pode haver; fortes e duradoiras, tudo no sítio com os melhores materiais. Acabamentos fazemos nós! O Carvalho filho, ao descer o caminho a pé para ver a casa, foi-se acanhando na comunicação, cada vez mais esguia, escassa até se perder de vista. Após esperas e hesitações já desgostosas, foi o próprio Carvalho pai que nos indicou o Senhor Machado, mais conhecido pelos sítios de Pedraça como “O Batatinha”.

Para todos efeitos, foi o Senhor Machado, o único corajoso, aventureiro e um tanto quanto louco que se dignou a cumprir a promessa. Chamou o irmão, que é tanoeiro, e um amigo com quem costumam trabalhar, e desceu de trator carregado, em várias partes, com as mil e tal telhas e uns tantos barrotes pelo nosso caminho abaixo. Alguns barros, como seria de esperar, partiram-se, mas isso faz parte da aventura! Até o trator ficou alagado num buraco ao tentar sair daqui num dia mais húmido, e tivemos de trazer ainda alguns barrotes aos ombros para lembrar os velhos tempos em que as pessoas de Eiró, quando morria alguém, iam a pé, de caixão às costas, para a Igreja de Riodouro (que fica do nosso lado), tudo para merecerem um pouco de bacalhau seco quando lá chegassem à cerimónia, que era sempre meia triste, meia alegre.

Com medo de que viessem por aí as chuvas a sério, o trabalho fez-se rápido e certo até tudo ficar pronto. Quando chegou à vez de tratarmos as madeiras que ficariam mais expostas aos elementos, tivemos o prazer de demonstrar aos profissionais que também sabíamos uns truques fixes. Recentemente, tínhamos passado em Foz-Côa, de onde trouxéramos umas quantas galhas de terebinto selvagem. É uma planta do mesmo género do pistácio (que se come) mas que produz carradas de resina volátil, e que se destila para produzir a turpentina. Misturada com cera de abelhas e óleo de linhaça em partes iguais, faz um belo produto para tratar madeiras que se queiram protegidas da chuva, dos fungos e dos insectos! Os Machado até são os carpinteiros mais tradicionais que já encontrámos por estas bandas, mesmo assim, se não lhes tivéssemos imposto este mais lento e moroso tratamento à moda antiga, as madeiras exteriores teriam sido todas pinceladas com bondex… Sentados nos andaimes, acabávamos nós as madeiras enquanto o Senhor Machado ia fixando as telhas, não fossem levantar voo com os ventos mais fortes do inverno…

Fora estas pequenas dissidências, o Senhor Machado gosta do nosso pão de bolota, gosta do ambiente assim, selvagem, e gosta de nós. Quando veio cá pela primeira vez, mostrámos-lhe onde dormíamos, como fazíamos comida, as nossas novidades na horta, e deixámo-lo emocionado com a nossa forma de vida. Disse-nos logo que lhe fazia lembrar da sopa que a avó dele fazia; nos tempos em que era verdadeiramente feliz, sem luz, nem água encanada. Para lhe passar a melancolia, de saber que o seu próprio filho já não lhe seguia os passos, demos-lhe uma folha de mostarda roxa para as mãos. Meteu-a à boca e disse “Foda-se ca puta! É picante c’mó caralho!!!”. De seguida, olhou para os inhames que temos a crescer mesmo aqui em baixo da casa, na primeira horta que abríramos. Mirando as suas copas gigantes, perguntou-nos se eram jarros. Dissemos-lhe que eram da mesma família, mas que estes, tinham vindo da Madeira e se lhes comíamos as raízes, tiradas em Abril. Quando se começarem a propagar decentemente, vamos tratar de fazer chegar inhame a toda a gente da zona! Vai ser um sucesso!
0 Comments

Uma casa onde morar

31/10/2020

0 Comments

 
Imagem
Imagem
Imagem
Imagem
Imagem
ler sobre: Uma casa onde morar
O calor que anteriormente nos inundava os dias de verão ia-se desvanecendo num outono ameno e contemplativo. Pensávamos agora em como íamos entrar nesta nova estação, visto os dias se começarem a encurtar e as noites a fazer-se sentir. Olhávamos agora para a casa com novos olhos, sentido que eventualmente teríamos que nela procurar refúgio. Aos poucos conseguimos conquistar território e os cavalos resguardavam-se agora no andar de baixo, construído para tal efeito, deixando o soalho de cima à espera duma boa recuperação. A casa apresentava-se de forma retangular, por construções que se haviam adicionado à medida que os anos passavam, e que gradualmente iam piorando. Na parte mas bem conseguida, encontrava-se uma era que tinha tomado conta da ponta norte do telhado e lhe dava uma verdadeira peruca cabeluda, fazendo-se acompanhar de troncos grossos que se entrelaçavam entre pedras e cimento. Foi uma verdadeira ensarilhada que tivemos que desemaranhar, e enquanto o Rodrigo lhe dava no serrote, a Sara utilizava a tesoura de poda que já considerava a sua ferramenta de eleição. Esta veio a provar-se essencial quando demos meia volta para o lado sul da casa onde já só se encontravam silvas que desciam como cascatas do telhado.

Parecia realmente haver outra estrutura traseira mas era impossível lá chegar. Diziam à Sara para não ligar; havia tanto que fazer no terreno ainda que não valia a pena estarmo-nos a preocupar com a casa. Mas a vontade de descobrir o que ali se encontrava era maior. E se desse para lá morar? Começou a desbravar silvas com mais de três metros durante horas a fio, no que parecia ser entrar por um matagal, quando no entanto só poucos centímetros se avançava. Literalmente nasciam do telhado, em ninhos que agarravam pelas raízes bocados de terra que se tinham acumulado nas telhas antigas. Eventualmente entre cortes e arranhões chegou até a uma porta, que de início não se fazia ver. Ao abri-la, viu uma igual do outro dia, que dava continuidade para a parte de trás da casa, também ela uma continuação estonteante de silvas. As portas já só metade de si eram, mas a felicidade de encontrar um pequeno abrigo aconchegante superava qualquer visualização de acabamento imperfeito. O chão, coberto com um manto significativo de palha, já se assimilava a um colchão que poderia receber a nossa tenda num futuro próximo.

Dado o sucesso da descoberta, decidiu que estava também na hora de limpar o outro manto, desta vez de estrume, que tinha sido acumulado no soalho na parte de cima da casa. Juntou velhas teias de arranha à mistura, que decoravam as paredes caiadas de pedra, e assim, limpando por baixo e ao lado, em tempo recorde se reavivava uma casa. O Rodrigo, atarefado com outros afazeres do campo, veio ver o trabalho feito em que nem queria acreditar. Juntámos o estrume à porta em monte, que mais tarde se transformou miraculosamente em sementeira. Olhámos uma vez mais para o soalho agora coberto só de pó, e para o telhado que em partes tinha ainda um forro de madeira a combinar. Era aliciante a ideia de vivermos na casa principal, com janelas que mesmo semi partidas davam vistas para o que era a nossa vida terrestre. Decidimos, no entanto, que talvez fosse ainda cedo arriscarmo-nos a assentar naquele chão. O telhado mostrava já indícios de chuva e, com soalho mole, não queríamos brincar. Combinamos então que o palheiro, com portas partidas que faziam vez de janelas, seria a partir de agora a nossa residência oficial.

Como não podia deixar de ser, uma ida à Madeira deu direito a mais um livro da biblioteca do Rui Camacho, pai do Rodrigo, em forma de presente. Na verdade fomos nós que o tirámos sorrateiramente da prateleira em primeiro lugar, pois o livro chamava-se ‘Construções Primitivas em Portugal’. Depois de páginas de estruturas belíssimas de materiais locais, encontrámos encantados várias casas de telhado de colmo que remetiam não só para Portugal continental mas especificamente para Cabeceiras de Basto e arredores. Ao lermos mais a fundo, aprendemos que a ‘El Rei’ eram entregues também giestas como pagamento, para cobrir os seus aposentos reais. Parecia que as giestas que nos rodeavam nos montes acima da casa, agora descidas à consideração de pragas, teriam sido outrora cobiçadas e deveras utilizadas. Montes delas, criadas pela terra e sem custo acrescido, prontas a serem o nosso telhado.
0 Comments

    Autores

    Sara Rodrigues
    Rodrigo B. Camacho

    Categorias

    All
    Agricultura Biológica
    Agricultura Natural Coreana
    água
    Alimentação
    Amigos
    Animais
    Aniversários
    Apanhas
    Arte
    Aulas
    Autonomia
    Azeite
    Azeitonas
    Barragem
    Bicicleta
    Bolota
    Cabelo
    Caça
    Caçadores
    Cama
    Caminhos
    Carro
    Carvalhal
    Carvalhos
    Casa
    Cavalos
    Chacim
    Chuva
    Cobertura
    Cogumelos
    Construção
    Corona
    Cultura
    Decomposição
    Dona Fernanda
    Dona Leonor
    Eiró
    Energia
    Ervas Daninhas
    Fagaceae
    Fertilizantes
    Fogo
    Geada
    Giestas
    Hortas
    Infusão De Bolota
    Inglaterra
    Inhame
    Internet
    Invasoras
    Inverno
    Irene
    Javalís
    Jovens
    KNF
    Lã
    Lenha
    Levadas
    Limoeiro
    Londres
    Luz
    Madeira
    Mapas
    Mercado
    Mestre Carlos Jorge
    Morte
    Nela Pastora
    New Maker Ensemble
    Oliveiras
    Orégãos
    Outono
    Painéis Solares
    Palha
    Palheiro
    Pampas
    Pão
    Picote
    Porto
    Precaridade
    Primavera
    Produtos
    Quercus
    Reciclagem De Nutrientes
    Rio
    Salamandra
    Senhor Machado
    Serra Da Cabreira
    Silvas
    Soalho
    Tecnologia
    Telhado
    Tenda
    Tremoço
    Vedação
    Vegan
    Verão
    Viagens
    Vida
    Visitas

    Histórico

    January 2023
    December 2022
    November 2022
    October 2022
    September 2022
    August 2022
    July 2022
    June 2022
    May 2022
    April 2022
    March 2022
    February 2022
    January 2022
    December 2021
    November 2021
    October 2021
    September 2021
    August 2021
    July 2021
    June 2021
    May 2021
    April 2021
    March 2021
    February 2021
    January 2021
    December 2020
    November 2020
    October 2020
    September 2020
    August 2020
    July 2020