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Uma casa onde morar

31/10/2020

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ler sobre: Uma casa onde morar
O calor que anteriormente nos inundava os dias de verão ia-se desvanecendo num outono ameno e contemplativo. Pensávamos agora em como íamos entrar nesta nova estação, visto os dias se começarem a encurtar e as noites a fazer-se sentir. Olhávamos agora para a casa com novos olhos, sentido que eventualmente teríamos que nela procurar refúgio. Aos poucos conseguimos conquistar território e os cavalos resguardavam-se agora no andar de baixo, construído para tal efeito, deixando o soalho de cima à espera duma boa recuperação. A casa apresentava-se de forma retangular, por construções que se haviam adicionado à medida que os anos passavam, e que gradualmente iam piorando. Na parte mas bem conseguida, encontrava-se uma era que tinha tomado conta da ponta norte do telhado e lhe dava uma verdadeira peruca cabeluda, fazendo-se acompanhar de troncos grossos que se entrelaçavam entre pedras e cimento. Foi uma verdadeira ensarilhada que tivemos que desemaranhar, e enquanto o Rodrigo lhe dava no serrote, a Sara utilizava a tesoura de poda que já considerava a sua ferramenta de eleição. Esta veio a provar-se essencial quando demos meia volta para o lado sul da casa onde já só se encontravam silvas que desciam como cascatas do telhado.

Parecia realmente haver outra estrutura traseira mas era impossível lá chegar. Diziam à Sara para não ligar; havia tanto que fazer no terreno ainda que não valia a pena estarmo-nos a preocupar com a casa. Mas a vontade de descobrir o que ali se encontrava era maior. E se desse para lá morar? Começou a desbravar silvas com mais de três metros durante horas a fio, no que parecia ser entrar por um matagal, quando no entanto só poucos centímetros se avançava. Literalmente nasciam do telhado, em ninhos que agarravam pelas raízes bocados de terra que se tinham acumulado nas telhas antigas. Eventualmente entre cortes e arranhões chegou até a uma porta, que de início não se fazia ver. Ao abri-la, viu uma igual do outro dia, que dava continuidade para a parte de trás da casa, também ela uma continuação estonteante de silvas. As portas já só metade de si eram, mas a felicidade de encontrar um pequeno abrigo aconchegante superava qualquer visualização de acabamento imperfeito. O chão, coberto com um manto significativo de palha, já se assimilava a um colchão que poderia receber a nossa tenda num futuro próximo.

Dado o sucesso da descoberta, decidiu que estava também na hora de limpar o outro manto, desta vez de estrume, que tinha sido acumulado no soalho na parte de cima da casa. Juntou velhas teias de arranha à mistura, que decoravam as paredes caiadas de pedra, e assim, limpando por baixo e ao lado, em tempo recorde se reavivava uma casa. O Rodrigo, atarefado com outros afazeres do campo, veio ver o trabalho feito em que nem queria acreditar. Juntámos o estrume à porta em monte, que mais tarde se transformou miraculosamente em sementeira. Olhámos uma vez mais para o soalho agora coberto só de pó, e para o telhado que em partes tinha ainda um forro de madeira a combinar. Era aliciante a ideia de vivermos na casa principal, com janelas que mesmo semi partidas davam vistas para o que era a nossa vida terrestre. Decidimos, no entanto, que talvez fosse ainda cedo arriscarmo-nos a assentar naquele chão. O telhado mostrava já indícios de chuva e, com soalho mole, não queríamos brincar. Combinamos então que o palheiro, com portas partidas que faziam vez de janelas, seria a partir de agora a nossa residência oficial.

Como não podia deixar de ser, uma ida à Madeira deu direito a mais um livro da biblioteca do Rui Camacho, pai do Rodrigo, em forma de presente. Na verdade fomos nós que o tirámos sorrateiramente da prateleira em primeiro lugar, pois o livro chamava-se ‘Construções Primitivas em Portugal’. Depois de páginas de estruturas belíssimas de materiais locais, encontrámos encantados várias casas de telhado de colmo que remetiam não só para Portugal continental mas especificamente para Cabeceiras de Basto e arredores. Ao lermos mais a fundo, aprendemos que a ‘El Rei’ eram entregues também giestas como pagamento, para cobrir os seus aposentos reais. Parecia que as giestas que nos rodeavam nos montes acima da casa, agora descidas à consideração de pragas, teriam sido outrora cobiçadas e deveras utilizadas. Montes delas, criadas pela terra e sem custo acrescido, prontas a serem o nosso telhado.
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    Autores

    Sara Rodrigues
    Rodrigo B. Camacho

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