Outono
A floresta, os frutos secos, e as longas apanhas
Figueira
Ficus carica (Moraceae) Bebereira A fruta (figo) é comida crua ou cozida. Pode ser seco ao sol, com um pouco de farinha, caso o clima seja ligeiramente húmido, para ser consumido meses mais tarde. Se a quantidade for suficiente, é possível fazer um xarope extremamente doce, que pode ser utilizado como substituto do açúcar de cana. Em altas concentrações, este xarope tem efeitos laxantes. Uma infusão das folhas é estomáquica. O latex das folhas e ramos verdes é utilizado para tratar verrugas e também tem efeitos analgésicos contra mordidas e picadelas. Os frutos verdes, cozidos até ficarem em papa, são usados como tónico que promove a lactação e tem propriedades anti-cancro. Carvalho
Quercus robur (Fagaceae)
Alvarinho, Roble A nossa árvore favorita domina as florestas de folha caduca aqui no norte da Penínsola Ibérica. Gosta de locais húmidos e de solos profundos, frescos, dominados por fungos e, por isso, ligeiramente ácidos. Todas espécies do género Quercus produzem bolotas comestíveis. Devido ao alto teor em taninos, têm de ser desamargadas antes de se tornarem propriamente digeríveis. Para isso, podemos deixá-las em água a correr durante pelo menos duas semanas, embora, com isso, se percam alguns minerais nutricionalmente valiosos. A cozedura também serve para desamargar, embora destrua muitas das vitaminas. A melhor forma é a fermentação em água, durante pelo menos dois meses em potes bem fechados. Após desamargadas, as bolotas podem ser comidas cruas ou cozidas em pratos normais ou torradas para fazer uma deliciosa infusão. As bolotas começam a cair a partir de setembro, embora seja a partir de novembro que venham em maior quantidade, mais maduras e completas. Se tiverem gorgulho, não só são ainda comestíveis, como têm valores nutricionais ainda mais interessantes (mais proteínas, menos gorduras e menos açúcares). Mesmo sem bicho, as bolotas são reconhecidas pelo seu equilíbrio proteico, contendo as 17 proteínas essenciais de que necessitamos. Após a apanha, podem ser deixadas a secar para depois fazer farinha de alta qualidade para pães, bolos, molhos e polentas. A secagem pode ser também feita após a fermentação, o que dá origem a uma farinha ainda mais completa. A bolota germinada já dá para comer crua, embora ainda possa ser ligeiramnte amarga. A sua maior utilização é a produção de cerveja de bolota! A casca do carvalho é anti-inflamatória, anti-séptica, adstringente e tónica. Os bugalhos também são extremamente adstringentes e, depois de secos, podem ser moídos e utilizados como pó para o tratamento de desinteria. Uma tinta preta muito forte é produzida com a combustão dos bugalhos. Serve para tingir tecidos de negro muito profundo e duradouro. Uma infusão do pó dos bugalhos crus acalma erupções cutâneas, estanca feridas abertas, pára hemorragias internas e tem efeitos positivos contra inflamações bocais e vaginais. A casca é retirada de árvores entre os 5 e os 12 anos de idade e deixada a secar. |
Beldroega
Portulaca oleracea (Portulacaceae) Baldroega, beldroega Aparece muito em campos de cultivo, caminhos de terra batida, baldios, fendas de calçada e outros terrenos mexidos, frequentemente em solos argilosos e secos. Comem-se as folhas e os ramos tenros crus ou cozidos. Uma boa fonte de omega-3, cálcio, potássio, riboflavina e niacina. As folhas contêm 1.8% de proteína, 0.5% de gordura, 6.5% de hidratos de carbono e 2.2% de cinzas. As sementes, se colhidas em quantidade, são extremamente ricas em proteínas e ácidos gordos muito balanceados e saudáveis. Queimadas, a cinza pode ser utilizada como sal de condimentação de alta qualidade. Estas propriedades têm especial valor na prevenção de ataques cardíacos e outros problemas vasculares. Toda a planta é também anti-bacteriana, depurativa, diurética e febrifúgica. Um chá das folhas mais secas é tradicionalmente utilizado para aliviar dores de estómago e de cabeça. O óleo das sementes é aplicado nas córneas para reduzir as opacidades. |