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documentamos os meses que passam com os momentos que os merecem

Comer bolo do caco às marretadas

28/2/2021

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ler sobre: Comer bolo do caco às marretadas
Nos últimos dias, a Sara tem acordado cedo, para andar de câmara na mão, por aí, pelos montes, cheia de vontade de tirar partido da luz matinal desta altura do ano, que tem sido realmente fantástica. Esta luz, baixa e razante, corta cada galho, cada botão levantando-se, que nem lâmina impossivelmente afiada, ao mesmo tempo que embebe as feridas limpas num licor doce, de névoa não fria de mais. Não conseguindo capturar - nem com imagens nem com letras - o verdadeiro espírito deste lugar, Fevereiro tem-nos passado com os ares mais lúcidos.

Como sempre, há muito que fazer; há tudo por fazer. Há árvores velhas que caíram de podres, agora a tapar caminhos (belos, ainda assim), há hortas por vedar (contra os nossos amigos porcos bravos, tão curiosos), há heras a esconder construções (hediondas, horrorosas, que o que mais vale é uma marreta na mão : uma casa no chão; que poder, que força, que dor nas costas!) Como as árvores mortas, também o velho barraco que alojara o alambique (que entretanto foi “levado”) não passa nunca a ser desperdício. Com os bacocos blocos de cimento - podres, quebradiços - montámos uns bancos e uma mesa bem parvos que, ainda assim, nos remedeiam os almoços e nos ajudam no trabalho manual, aqui no terraço.

É altura de trabalhar madeira, já que há tanta à mão de pegar. Como temos duas hortas por vedar, há estacas e cancelas para constuír. Quando era adolescente, o Rodrigo frequentava muito a oficina de um luthier seu amigo, lá no Funchal, que constrói cordofones tradicionais madeirenses. Nesse tempo, como andava com umas ideias estranhas na cabeça, foi para lá para a loja, com o plano de aprender a fazer espadas (daquelas com que se corta uma pessoa em dois com um golpe só). Entretanto, por astúcia do mestre Carlos Jorge, lá aprendeu o Rodrigo a trabalhar com madeiras; a selecionar, a cortar e a aparar dos brutos aos finos, a embutir, a dobrar, a colar, a cunhar, a lixar e a polir, a tratar e a desfrutar do trabalho feito. Entretanto, longe da ilha, nunca mais houve contacto com esta arte de se fazer de uma coisa morta, uma coisa viva, até que, agora, no campo, finalmente arranjámos ferramentas decentes - serras japonesas, e lâminas das boas - com que é possível trabalhar a sério. Não gostamos de pregos, por isso, sempre que a madeira permite, todos os objetos são fortemente aconchegados apenas com cunhas cobertas e pontões. É uma maravilha ver os objetos ganharem a sua nova forma, sem pensarmos, sem sabermos; a utilidade manifestando-se nas coisas das mãos.

Ainda pensámos que o soalho velho da primeira casa serviria como peça de uma outra qualquer construção, mas o caruncho não nos deu esse prazer; deu-nos outro. Em frente à salamandra, sempre temos lenha que pega particularmente bem, com todos aqueles orifícios por onde se injeta o oxigénio que nem motor de avião. A salamandra, comprámo-la em segunda mão. Veio de um bar de cocktails chamado Hawai Coffee, que ficava no meio de um pinhal, à beira de uma estrada nacional, em Amarante. O Café faliu durante o covid e nós fomos lá buscar-lhes os últimos folgos de calor pseudo-tropical. Gostamos muito de ficar em frente ao fogo até a hora de dormir, sentados num banquinho de vimes onde, com jeitinho, cabemos bem os dois. Encontrámo-lo no Porto no meio da rua, atirado para o lixo, durante um dos nossos longos retornos para casa a pé, às tantas da madrugada. Todas as noites, temos feito jantares quentes, ao lume, em potes e frigideiras de ferro fundido. E temos comido bolos do caco, dos melhores que alguma vez já se fizeram; bem fermentados, tanto fofos quanto estaladiços. Sabemos que um dos maiores clichés é dizer o que se segue, mas comida feita na lenha é verdadeiramente imbatéivel...

Calma, nem todos os dias são cobertos de ação, com marretadas, cortes, pontapés e o raio que o parta! Também há vezes em que uma pessoa se dedica a olhar para as coisas e a andar por aí. Por vezes, juntamos o útil ao agradável e semeamos grandes transformações ao sabor de gestos tão leves quanto o vento. Assim foi, o dia em que decidimos propagar milhares de sementes das nossas queridas e oportunistas pampas argentinas (Cortaderia selloana). Há quem nos queira ver a arder no inferno por termos apoiado a propagação de tal praga, de tamanha infestação, que estrangeirada medonha, cruzes! A verdade é que estas belas ervas são bem úteis e, sem dúvida, muito uso lhes daremos assim que comecem a crescer vigorosas, por todo o lado! Lembremo-nos do seguinte: Só há invasão em sistemas falidos.
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    Sara Rodrigues
    Rodrigo B. Camacho

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