Março-Agosto 2024
Underground. Ecosistemi da esplorare Museu Civico Villa dei Cedri Bellinzona, Suiça exposição de grupo com curadoria de Carole Haensler e Joana P.R. Neves O projeto é composto por duas intervenções, uma dentro e uma fora. Na sala de exposições, um projetor de diapositivos mostra-nos imagens de análises microscópicas que fizemos de solos tanto dos jardins do museu, como das florestas em torno dele.
Na sequência de imagens, reparamos que, em escalas diferentes, certas formas orgânicas tornam-se abstratas e dissociadas do seu contexto original. Ao mesmo tempo, anotações verbais e diagramas vão ganhando uma certa prevalência estética. Um micro-agregado bacteriano, ou um filamento fúngico poderão vir a ser linhas, tanto quanto os links diagramáticos entre os seus nomes o são. Informação de várias qualidades aparece em cores diferentes, do preto para notas precisas, de cariz científico, ao vermelho para comentários e interpretações motivadas politicamente. No quarto há ainda uma caixa de luz, com uma coleção de acetatos de grande formato, mostrando imagens à escala real dos trabalhos de campo que tivemos de fazer antes de cada análise microscópica. Cria-se um diálogo entre as nossas mãos, cavando terra adentro, em busca dos diferentes solos, e as diferentes comunidades de plantas que habitam esses lugares. |
Já no jardim, mesmo antes da entrada principal do museu, está a outra intervenção: um viveiro reservado para o crescimento de espécies de árvores e arbustos que melhorariam muito a diversidade do jardim.
Sendo que este jardim constitui o património histórico da cidade, não podem haver alterações no seu desenho original, então as árvores foram doadas à cidade de Bellinzona e serão a seu tempo transplantadas para canteiros no espaço público sob a supervisão do chefe dos jardineiros do município. Durante o desenvolvimento deste trabalho, foram criadas muitas narrativas, mas uma, em particular, chamou-nos muito a nossa atenção, e essa é a estranha relação, muito ambígua, que o fungo Armillaria mellea desenvolve com várias árvores e com o ecossistema como um todo. A Armillaria é muito bem conhecida como um agente de putrefação da madeira, temida por técnicos de floresta e produtores de fruta de pomar como um famoso patogénico de árvores pelo mundo todo. As instituições responsáveis pela gestão de parques públicos estão entre os maiores preocupados. No entanto, ao analisarmos várias amostras de solos deste bioma, percebemos que a Armillaria não é apenas um agente patogénico, e que, a nível sistémico, não pode ser considerada, de facto, apenas um ser mau. Esta espécie, assim como tantas outras, serve variadíssimas funções ecológicas que são cruciais para o bom funcionamento de sistemas complexos e bem desenvolvidos como ecossistemas baseados em florestas diversas. As relações que este fungo desenvolve com várias espécies dentro do ecossistema são muito mais ambíguas, e diversas do que o que é normalmente percepcionado. Gerámos algumas considerações políticas e sociológicas sobre tais tipos de comportamentos visíveis e desenhámos vários paralelos entre os mundos humanos e não humanos às escalas micro e macro. |